27.8.14

Pesquisa: família, escola e mídias

Qual a relação dos adolescentes com as novas e velhas mídias, com seus pais, suas mães e com a escola na hora da sua mais importante decisão, "o ser quando crescer"? Este foi o tema que abracei na conclusão de minha pós-graduação, em 2012, na Faculdade Cásper Líbero, instituição onde também havia me graduado jornalista no início dos anos 2000. 

Pesquisei, a princípio, 123 alunos do 3º ano do Ensino Médio em sete cidades de quatro Estados brasileiros (São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal e Maranhão). O foco inicial foram escolas particulares de diversos perfis socioeconômicos, que atendem desde a nova classe C até a classe A. Em seguida, somei ao espaço amostral outras 92 entrevistas exclusivamente de escolas públicas, somando 215 entrevistas.




1. DECISÃO

O questionário, feito por meio de aplicação presencial, começava levantando qual a porcentagem de estudantes que já decidiram que carreira seguir no 3º ano do Ensino Médio e a pesquisa mostrou que a grande maioria (ou, 88%) já entra neste período decidida, enquanto 12% ainda não decidiram. O resultado nos sugere que começar a trabalhar orientação profissional no final do Ensino Médio pode ser tarde demais, ou seja, o quanto antes esse tema for abordado, melhor.


2. INFLUÊNCIAS

A questão seguinte focou os que responderam "sim" à anterior e abordou se a escolha da profissão teve alguma influência, de alguém ou de algo. E, também neste caso, a maioria aponta que, sim, sofreu influência. Dos entrevistados, 68%  admitem que foram influenciados na decisão, enquanto 32% diz que não sofreu nenhuma influência.


3. FONTES DE INFORMAÇÃO

Outra questão, direcionada a todos os entrevistados, focou a fonte de informação que utilizam na busca de conteúdos que os ajudem na escolha da profissão. As respostas mostram uma enorme preferência dos adolescentes pela internet, diante de todos os outros meios de comunicação de massa (TV, impressos ou rádio). A internet apareceu com 77,37% das preferências contra apenas 13,58% da TV, 4,94% dos jornais, 3,29% das revistas e 0,82% do rádio. 

O resultado nos dá uma interpretação quase óbvia: o canal mais eficiente para chegar até o jovem é sem dúvida a internet, o que não quer dizer que outras plataformas devam ser desprezadas. O professor é uma importante ponte entre a informação e sua transformação em conhecimento diante dos alunos. Então, pode aproveitar conteúdos de várias plataformas e terá mais sucesso se canalizar esse conteúdo para uma plataforma digital, como o site da escola, o blog do próprio professor, um grupo no Facebook etc.


3. MÍDIAS SOCIAIS

A pesquisa também levantou o poder das mídias sociais na vida dos adolescentes e o resultado mostra que ele é muito grande. Nada menos que 97% dos estudantes pesquisados possuem conta em uma ou mais mídias sociais e só 3% não têm. Ou seja, utilizar essas mídias para criar canais de interação entre alunos e seus professores pode ser interessante, considerando a maciça presença dos jovens nesse contexto.

As mídias sociais fazem parte de uma revolução dentro da revolução que é a própria internet, a chamada internet 2.0, que permite a criação de perfis pessoais com muita facilidade e o cruzamento de informações e conexões. Com esse fenômeno, ganhamos poder de mídia, passamos a ser, além de receptores de informação, também emissores, e isso certamente explica o porquê de estarmos tão conectados.


Mas, quais seriam as mídias sociais mais relevantes na vida dos adolescentes. A pesquisa também buscou essa resposta e o resultado aponta um empate técnico entre Facebook e Youtube, seguidos de Twitter e blogs. Esse resultado vem de uma média de realidades bastante diversas focadas na pesquisa e, portanto, uma medida interessante seria, antes de traçar uma estratégia de mídias sociais dentro de uma escola, buscar saber quais mídias são mais utilizadas naquela realidade em questão.

É interessante observar que usar apenas uma mídia pode empobrecer a estratégia. Antes de começar um trabalho de uso da internet em salas de aula, algumas observações podem ser interessantes: checar como é o próprio site da escola (se tem um administrador que permite postagens constantes de conteúdo); cada professor pensar em ter seu próprio blog, para onde canaliza boa parte do seu conhecimento e sua interpretação do mundo; como é a relação dos alunos com as mídias sociais, o que eles já produzem e como já interagem nessa nova dimensão da comunicação.

O site da escola pode ser um importante "QG" (Quartel General) de informações institucionais (sobre a escola, os eventos que nela acontecem, as regras gerais, as iniciativas diversas relacionadas à comunidade que a frequenta ou a envolve etc). Essas informações podem ser canalizadas ("linkadas") para mídias sociais como o Facebook (onde se podem criar grupos de alunos, divididos por classes, por exemplo) e o Twitter.

Outro "QG" interessante são os blogs dos professores, um mecanismo que possibilita um enorme empoderamento daquilo que é próprio de quem leciona: a multiplicação do saber. Ao ter um blog abastecido com seus estudos, o professor passa a contar com uma importante ferramenta para enriquecer seu trabalho docente, podendo "linkar" cada postagem, oportunamente, para outras mídias sociais, como, por exemplo, o grupo no Facebook da sua classe X ou da classe Y. 

Mais que isso, o blog do professor é como seu livro virtual, sua fonte de empregabilidade que levará para todas as escolas onde trabalhar e todos os alunos a quem ensinar.



4. PAIS, MÃES, PROFESSORES E TECNOLOGIAS

A questão mais importante da pesquisa, que acabou sendo uma grata surpresa para mim ao compilar os resultados, retoma a segunda pergunta do questionário, sobre as influências sofridas pelos alunos e pelas alunas. Em um tempo em que os jovens estão tão conectados em seus notebooks e celulares, tão virtuais em suas relações, quem e o que mais os influencia na hora de tomar a decisão tão importante da escolha da profissão? Os pais e as mães são importantes? E o professor, que papel exerce? Qual a relevância de instâncias tradicionais como a família e a escola numa era de tanta tecnologia?

O resultado é surpreendente, porque mostra um equilíbrio perfeito entre família, professores e tecnologia. Entre os fatores mais importantes na escolha do "ser quando crescer", os adolescentes consideram a figura do pai, da mãe e do professor igualmente importantes, ambos empatados também com a tecnologia da informação. Família ficou com 22,4% entre as respostas "muito importante" para este fator (as respostas poderiam ser "muito", "relativamente" ou "pouco" importante" para cada item), sites com 22,3% e professores com 22,1%. Trata-se de um empate fazendo a aproximação decimal.

Ou seja, pais, mães, professores e tecnologia da informação estão empatados em primeiro lugar entre os fatores mais relevantes de referência para os adolescentes decidirem sobre suas futuras profissões. Sim, eles estão conectados, mas valorizam a figura da família e da escola, dos país e dos professores. 

Esse resultado sugere que esses três elos se unam em prol de uma educação eficiente no sentido de corroborar com projetos de vida bem construídos no ambiente escolar. Famílias e escolas podem aproveitar as novas tecnologias para se unirem em prol daquilo que os alunos precisam: orientação e referência para tomar suas decisões.

Aqui, várias ideias surgem e cada escola pode usar conforme sua realidade. Para trazer a importância da família para a sala de aula via tecnologia, pode-se criar um blog compartilhado ou um grupo no Facebook em que os pais e as mães escrevam contando sobre a rotina e os desafios sobre suas profissões pode ser uma saída interessante. No caminho inverso, da escola para as famílias, pode-se utilizar as mídias sociais (o Youtube, por exemplo) para subir trabalhos feitos nas escolas, para que os pais os vejam mesmo à distância, acompanhando as atividades dos filhos, seus talentos, seu potencial criativo, seus sonhos.

Claro que tudo isso demanda cuidados. O poder de mídia que a internet nos conferiu para novas oportunidades também nos expõe a riscos e qualquer exposição dos alunos deve ser de comum acordo com os pais, assim como tomando os cuidados legais. Entretanto, negar-se a esta nova realidade pode ser mais perigoso, pois os alunos estarão conectados de qualquer maneira, muitas vezes se arriscando muito mais fazendo por si próprios, sem a orientação da escola em união com as famílias. 



26.8.14

Cyberempreendedores

A nova era digital não está apenas modificando a rotina da maioria das profissões existentes no mundo, mas também abrindo caminhos para novos modelos de negócio. 

Já é quase impensável a uma empresa, a uma escola, a uma ONGs ou mesmo a um profissional liberal ausentar-se da internet, seja em sites ou mídias sociais. Estamos em um tempo já chamado de "era das reputações", em que a presença e a imagem gerada na rede contam muito. Essa realidade não serve apenas às "pessoas jurídicas" (ou, instituições), pois os profissionais que trabalham como funcionários também já se beneficiam das conexões digitais (afinal um currículo no Linked-In ajuda muito na manutenção da empregabilidade, por exemplo).


Mas há um componente que vai além de tudo isso. Chegamos a um novo patamar do empreendedorismo, que pode ser entendido como cyberempreendedorismo ou empreendedorismo digital. Esse modelo abre novas possibilidades de obtenção de renda por meio das novas plataformas de comunicação e conexões. Um exemplo já tradicional desse novo tempo está no e-comerce, ou seja, em endereços na internet que vendem produtos e serviços com quase toda a tramitação realizada online, mas há outras maneiras de se gerar renda na internet sem precisar montar uma estrutura de venda, bastando focar apenas em um conteúdo que gere audiência e deixar o restante para a empresa de mídia que hospeda esse conteúdo. 


Estamos falando do modelo de negócios que se dá nas mídias sociais, onde é possível gerar renda com um um simples clique, ativando essa possibilidade em seus perfis no Youtube ou no seu blog, por exemplo. Ao clicar no "gerar renda", você abre espaço para anúncios serem veiculados em seu perfil pela empresa mantenedora da mídia social, passando a ser remunerado proporcionalmente ao número de cliques que seu conteúdo render. Quanto mais pessoas você agregar entre os espectadores de suas publicações, mais renda poderá obter. Esse novo modelo de negócios ainda é incipiente, mas se mostra muito promissor e com condições de crescer enormemente.

Há exemplos de cyberempreendedores em muitas áreas profissionais. PC Siqueira é um deles. Ele é um vlogger (faz análises, comentários e representações diversas em vídeos no Youtube) e já tem quase 2 milhões de seguidores. A própria história de PC, que ele conta no vídeo abaixo, é interessante: estrábico e alvo de bullying, ele foi um autodidata e chegou a não frequentar escola, até que descobriu nas redes sociais uma forma de se aceitar e ganhar milhares de fãs digitais. Quem quiser segui-lo ou conhecer seu trabalho, bastante bem humorado, basta buscar, no Youtube, pelo canal "Maspoxavida".





Outro exemplo de cyberempreendedores de sucesso é o grupo "Porta dos Fundos", formado por artistas que já têm mais de 8 milhões de adeptos também no Youtube apreciando seus vídeos de humor. O "Porta dos Fundos" é uma versão digital de outros grupos que surgiram em tempos analógicos, mas precisavam ser empregados por emissoras de TV para sobreviver (um exemplo é o Casseta & Planeta, que sobreviveu enquanto a Globo lhe deu emprego). 


Diferente dos grupos anteriores, o "Porta dos Fundos" não precisa de uma emissora de TV, porque o Youtube já faz o papel de uma emissora, com a diferença de ser uma emissora que permite a criação de infinitos perfis pessoais dentro dela, como se fossem canais de TV da era digital gerados e mantidos por qualquer pessoa ou grupo que queira empreendê-los. 

Um dos integrantes, Fabio Porchat, também trabalha na Globo, mas é interessante observar que ele nunca quis assinar um contrato de exclusividade com a TV da família Marinho, pois enquanto as emissoras de TV, pertencentes à velha mídia, desidratam em audiência, a internet cresce apontando para o futuro. Porchat, aliás, protagonizou recentemente um retumbante "não" dado à Globo: ele foi convidado para cobrir férias de Fátima Bernardes em seu programa matinal e disse que não poderia porque tinha outros compromissos, atitude inimaginável antes dos tempos digitais. Também era inimaginável nos tempos analógicos a liberdade que o "Porta dos Fundos" tem para abordar temas polêmicos, já que eles não dependem de um dono de emissora de TV ditando a "linha" que devem seguir. 

Abaixo, um vídeo do grupo em que se faz uma crítica inteligentíssima ao fundamentalismo religioso (e intolerante) na política.




Há cyberempreendedores de todos os tipos e com todas as causas veiculadas em mídias sociais. Um exemplo incrível aconteceu recentemente na Holanda, onde  um jovem de apenas 19 anos apresentou um projeto capaz de limpar os oceanos dos entulhos que o ser humano joga ali, matando espécies e destruindo o ecossistema marinho. Boyan Slat intrigava-se com uma questão: "por que navegar pelos mares tirando lixo com embarcações poluentes se uma simples barreira pode fazer o trabalho, aproveitando o próprio movimento dos oceanos?". Ele se dispôs, então, a criar isso.

A relação de seu projeto com as mídias sociais está na própria viabilidade dele. Slat usou as novas conexões digitais para buscar financiadores de seu sonho. Criou a fundação The Ocean Cleanup, por meio da qual busca arrecadar 2 milhões de dólares necessários para sua empreitada. A boa notícia é que, em pouco tempo usando redes sociais para um financiamento colaborativo de uma grande causa, ele já conseguiu mais de 1/4 do que precisa para seu projeto dar certo.

O jovem holandês já conta com uma equipe de 100 pessoas colocando em prática um projeto que, além de revolucionário, é sustentável: só será necessário o dinheiro para colocar o projeto em prática, porque depois ele se mantém com a verba oriunda da reciclagem do material retirado dos oceanos.

Abaixo, veja um vídeo sobre o projeto de Boyan Slat e sua participação no TED.





O que a internet nos trouxe?

A era digital não trouxe apenas novos aparelhos com novas funções para nos comunicarmos. Não se trata simplesmente da mudança do pesado telefone de ferro (que para usá-lo precisávamos girar um disco), para celulares touch multifuncionais que nos conectam com o mundo; ou da TV analógica sintonizada quase sempre na Globo para a internet com multicanais e pluralidade de visões sobre o mundo; ou ainda do jornal impresso que líamos de manhã para o notebook ou o tablet, em que lemos e escrevemos em tempo real. Mais que tudo isso, a era digital inaugurou uma nova vocação no ato de comunicar e sua principal característica nos deu algo inédito em toda a história da comunicação.

Qual é essa vocação e o que ganhamos com ela? As respostas são interatividade e poder

A internet, além de ser a mídia das mídias (engolindo as características de todas as mídias anteriores: o texto, o som, a imagem e o vídeo), é também a mais interativa de todas. Tão interativa que vem revolucionando a velha fórmula da comunicação (emissor-mensagem-receptor). Na internet das conexões (ou, a internet 2.0, dos bancos de dados cruzados e das mídias sociais), receptores têm também potencial para serem emissores. Antes, fosse no jornal, no rádio ou na TV, líamos, ouvíamos e assistíamos sem poder interferir na mensagem, tendo de nos contentar entre acreditar ou não nela. O feedback era muito pequeno e demorado (escrever uma carta a um jornal, por exemplo, era a quase certeza da não-publicação). Já na internet, nós participamos do debate ativamente, podendo comentar em tempo real sob postagens de outras pessoas, compartilhar conteúdos com a nossa interpretação sobre eles ou formularmos nossas próprias considerações sobre todos os assuntos que quisermos, em nossos próprios canais (perfis).

Na primeira imagem, abaixo, a fórmula da comunicação nas mídias pré-internet. Há um emissor e um receptor claros e a mensagem dirige do primeiro para o segundo. Existe uma seta contrária indicando o feedback, mas ele é muito pequeno diante do que ocorre com a internet, que está na segunda imagem. A nova fórmula da comunicação transformou deu poder ao receptor, que se transformou num potencial emissor.








Na primeira imagem acima, a fórmula da comunicação nas mídias pré-internet: há um emissor e um receptor claros e a mensagem dirige do primeiro para o segundo; até existe uma seta contrária indicando o feedback, mas ele é muito pequeno diante do que ocorre com a internet, que está na segunda imagem. A nova fórmula da comunicação deu poder ao receptor, que se transformou num potencial emissor. Isso se observa nas mídias sociais, por exemplo.

Trocando em miúdos (emprestando a frase do genial Chico Buarque), ganhamos poder. Um poder que advém da descentralização e distribuição das mensagens em rede, possibilitadas pela internet 2.0. É uma nova era de conexões que não possui um polo centralizador, mas se multiplica em inúmeros pontos interligados. 

Se pensarmos na comunicação de massa pré-Gutemberg, tínhamos a Igreja como centralizadora da pauta, pois era apenas nas missas dominicais que a sociedade tinha alguma possibilidade de lidar com assuntos públicos, pois não havia outra forma de divulgação de informações. Depois da prensa, chegaram os impressos e com eles a quebra do monopólio do clero diante da comunicação. Aí veio o rádio, o cinema, a TV e grandes grupos de mídia se formaram, dominando a divulgação de conteúdos por esses canais. Jornais, rádios e TVs têm donos e qualquer conteúdo que passe por eles passa pelo crivo desses donos. Ou seja, depois de Gutemberg, cuja invenção quebrou o monopólio do clero na condição de comunicadores de massa, surgiram as empresas de mídia, que concentravam em si (e em mais ninguém) a prerrogativa de falar com grandes públicos.

No vídeo abaixo, um músico norte-americano protagoniza um exemplo do poder de mídia que a internet 2.0 nos deu. Após ter sua guitarra quebrada em um voo da United Airlines e não tendo conseguido ressarcimento, ele fez um videoclipe e subiu no Youtube. O efeito viral do vídeo arranhou a imagem da empresa, a ponto de ela ter queda na Bolsa de Valores.





Hoje, com a internet, assistimos à quebra dos impérios midiáticos, pois todos podemos ser uma mídia, todos somos um veículo de comunicação em potencial, com condições de reunir muitas pessoas e muitas ideias em volta de nós, de nossos perfis nas mais diversas mídias sociais (Facebook, Twitter, Blogs, Instagram, Youtube etc). Há que se ressaltar que essas mídias também têm donos e, de alguma forma, estamos pendurados a eles com nossos perfis, porém o controle de conteúdo desta nova mídia é completamente diferente da velha. Não há um editor designado pelo dono do Facebook, por exemplo, para ler suas postagens e liberar ou não para publicação. Você publica diretamente. E se não for no Facebook, poderá ser em inúmeras outras mídias. O controle do conteúdo é seu e isso se chama poder.

22.8.14

Exagero digital em propagandas geniais

As mídias sociais são muito interessantes e importantes, pois nos deram um poder de mídia que nunca antes tivemos. Com a possibilidade de criar um perfil pessoal na rede, de forma muito fácil e rápida, nos vemos diante de um novo mundo capaz de interagir com mais e mais pessoas, no qual publicamos de forma direta, sem intermediários. Entretanto, como em tudo na vida, o exagero neste caso também é perigoso. E basta olhar para um lugar público, como um aeroporto, por exemplo, para percebermos o quanto estamos rodeados de pessoas mexendo em seus celulares, tablets e notebooks, alheios à vida à sua volta. Se por um lado isso nos conecta com muitas pessoas, também pode nos tirar da vida real. 

Abaixo, algumas propagandas criativas focando esse problema, vídeos que podem vitalizar reuniões de trabalho e aulas para refletirmos sobre os limites da comunicação digital.

1. Para divulgar o Windows Phone, a Microsoft aponta que o celular e todas as suas múltiplas tarefas não deve substituir as relações humanas.



2. No mesmo sentido, a Coca-Cola vai além e propõe um acessório para evitar que usemos o aparelho em exagero e passemos a enxergar a vida real, que está alguns centímetros acima dos nossos celulares.


3. A Sony, na divulgação de seu Vaio, mostrou uma reunião do tipo "Alcoólicos Anônimos" para mostrar o vício que há em relação ao uso das redes sociais e que seu aparelho é irresistível até nesse tipo de encontro.




A infância metralhada pela publicidade

A publicidade encontrou nas crianças o caminho mais promissor para vender seus produtos e, com isso, colocou um grande obstáculo à formação de cidadãos. Ao mirar sua metralhadora nos filhos e nas filhas, o mercado colocou pais, mães e educadores em xeque, fragilizando sociedades que já se caracterizam pelo excesso de consumo, pela escassez de recursos naturais e pela desigualdade.

A fórmula é maquiavélica. Crianças antes dos 7 anos ainda estão formando seu entendimento sobre a relação entre causa e consequência, portanto são mais suscetíveis ao apelo publicitário. Soma-se a isso o fato de os pais de hoje em dia estarem muito mais ausentes em casa e diante dos filhos, por conta de uma carga de trabalho maior. Forma-se, então, a tempestade perfeita: a suscetibilidade infantil somada à fragilidade paterna e materna.

A criança é seduzida para o produto e leva esse desejo aos pais e mães que, muitas vezes destituídos do papel de impor os limites necessários na educação dos filhos, acabam cedendo aos pedidos, à insistência e às birras, comprando o bem material numa ilusória ideia de ele vai suprir sua ausência ou compensar a falta de afeto e orientação. 

Esse fenômeno já nos traz números assustadores. Pesquisas mundiais e também feitas no Brasil apontam que a decisão de compra em uma casa chega a estar enormemente nas mãos das crianças. Segundo o IBGE/InterScience 2003, esse índice de influência chega a 80% e ele se manifesta não apenas nos produtos ligados diretamente ao público infantil, mas até em itens como o carro da família. 

Um dos resultados dessa realidade são filhos sem limites diante da maior demanda do mundo de hoje, a sustentabilidade. Sabe-se, por meio de inúmeros estudos, que o planeta não tem mais condições de suprir o consumismo humano, porém os modelos econômicos continuam a reproduzir a necessidade de comprar cada vez mais, agora com imensa ajuda de crianças "abduzidas" pela magia da propaganda. O outro resultado já afeta a saúde das crianças. Para se ter uma ideia, no Brasil, a obesidade infantil cresceu 200% nas últimas três décadas, em boa parte fruto da propaganda de alimentos com excesso de gorduras e açúcares (esse fenômeno já ocorre nos EUA, por exemplo, de forma muito mais devastadora).

Para piorar essa realidade, no Brasil não temos nenhuma legislação que limite a propaganda infantil. No Congresso Nacional, projetos mofam nas gavetas, nunca sendo colocados em votação. Em São Paulo, a Assembleia Legislativa aprovou uma lei nesse sentido, mas o governador a vetou, mantendo o mercado de produtos infantis livre para fazer a cabeça das crianças.

A única esperança, portanto, está em você, educador, e numa educação que contemple a formação de senso crítico e visão sustentável. Nesse sentido, são bem-vindas estratégias de educação financeira desde cedo, desde que ensinem sobre os limites do dinheiro. Precisamos ensinar que o dinheiro não é tudo e que o valor das pessoas e da vida está muito acima dos preços.

Abaixo, link para o vídeo "A Comercialização da Infância":


Outro vídeo abaixo, "Criança, a alma do negócio":


Professor, empodere-se e inspire!

chanpipat/Shutterstock

Mídias são meios que conectam pessoas. Muito mais importante que elas é o que colocamos nelas. Saber usar as novas mídias é prerrogativa dos profissionais da atualidade, porém usá-las para transformar o mundo em um lugar melhor para se viver é prerrogativa dos empreendedores de uma nova humanidade.

Vivemos um tempo de muitas possibilidades em relação à conexão das pessoas. A revolução digital venceu quase todas as fronteiras e nos oferece uma oportunidade incrível de compartilhar conhecimento, despertar senso crítico, encampar ideais, fomentar a ação transformadora. Mas essa revolução não se basta nas novas mídias, pois depende de nossas mãos, nossa mente e nossas atitudes.


As mídias sociais nos deram poder, um poder de voz que nunca tivemos em nenhum outro momento da história, e um poder que traz uma característica nova e promissora: é descentralizado, distribuído e nos convida à sustentabilidade social.


Você que é professor ou realiza trabalhos ligados à educação tem às suas mãos um novo meio para exercer seu papel, inspirando o olhar e as atitudes no sentido de um mundo mais justo, mais livre, menos desigual, mais solidário e onde a diversidade da vida seja contemplada em todas as ações.


Da mesma forma, seu aluno está navegando por esse poder digital, conectando-se a todo tipo de conteúdo, curtindo, compartilhando, comentando, interpretando. E você é essencial para ajudá-lo nessa navegação. Procure conhecer o que seus alunos já fazem na rede, se têm blogs, vídeos no Youtube, o que postam no Facebook etc. Você poderá descobrir grandes talentos e inspirá-los a voar alto.


Paulo Freire viveu antes da era das conexões digitais, mas já entendia tudo de redes sociais, pois mostrou, com sua riquíssima obra, que a educação não é uma via de mão única, mas uma interação em que todos os envolvidos no processo se educam mutuamente. Ele sabia a essência da interação e hoje temos novos caminhos para praticá-la.