22.8.14

A infância metralhada pela publicidade

A publicidade encontrou nas crianças o caminho mais promissor para vender seus produtos e, com isso, colocou um grande obstáculo à formação de cidadãos. Ao mirar sua metralhadora nos filhos e nas filhas, o mercado colocou pais, mães e educadores em xeque, fragilizando sociedades que já se caracterizam pelo excesso de consumo, pela escassez de recursos naturais e pela desigualdade.

A fórmula é maquiavélica. Crianças antes dos 7 anos ainda estão formando seu entendimento sobre a relação entre causa e consequência, portanto são mais suscetíveis ao apelo publicitário. Soma-se a isso o fato de os pais de hoje em dia estarem muito mais ausentes em casa e diante dos filhos, por conta de uma carga de trabalho maior. Forma-se, então, a tempestade perfeita: a suscetibilidade infantil somada à fragilidade paterna e materna.

A criança é seduzida para o produto e leva esse desejo aos pais e mães que, muitas vezes destituídos do papel de impor os limites necessários na educação dos filhos, acabam cedendo aos pedidos, à insistência e às birras, comprando o bem material numa ilusória ideia de ele vai suprir sua ausência ou compensar a falta de afeto e orientação. 

Esse fenômeno já nos traz números assustadores. Pesquisas mundiais e também feitas no Brasil apontam que a decisão de compra em uma casa chega a estar enormemente nas mãos das crianças. Segundo o IBGE/InterScience 2003, esse índice de influência chega a 80% e ele se manifesta não apenas nos produtos ligados diretamente ao público infantil, mas até em itens como o carro da família. 

Um dos resultados dessa realidade são filhos sem limites diante da maior demanda do mundo de hoje, a sustentabilidade. Sabe-se, por meio de inúmeros estudos, que o planeta não tem mais condições de suprir o consumismo humano, porém os modelos econômicos continuam a reproduzir a necessidade de comprar cada vez mais, agora com imensa ajuda de crianças "abduzidas" pela magia da propaganda. O outro resultado já afeta a saúde das crianças. Para se ter uma ideia, no Brasil, a obesidade infantil cresceu 200% nas últimas três décadas, em boa parte fruto da propaganda de alimentos com excesso de gorduras e açúcares (esse fenômeno já ocorre nos EUA, por exemplo, de forma muito mais devastadora).

Para piorar essa realidade, no Brasil não temos nenhuma legislação que limite a propaganda infantil. No Congresso Nacional, projetos mofam nas gavetas, nunca sendo colocados em votação. Em São Paulo, a Assembleia Legislativa aprovou uma lei nesse sentido, mas o governador a vetou, mantendo o mercado de produtos infantis livre para fazer a cabeça das crianças.

A única esperança, portanto, está em você, educador, e numa educação que contemple a formação de senso crítico e visão sustentável. Nesse sentido, são bem-vindas estratégias de educação financeira desde cedo, desde que ensinem sobre os limites do dinheiro. Precisamos ensinar que o dinheiro não é tudo e que o valor das pessoas e da vida está muito acima dos preços.

Abaixo, link para o vídeo "A Comercialização da Infância":


Outro vídeo abaixo, "Criança, a alma do negócio":


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