26.8.14

O que a internet nos trouxe?

A era digital não trouxe apenas novos aparelhos com novas funções para nos comunicarmos. Não se trata simplesmente da mudança do pesado telefone de ferro (que para usá-lo precisávamos girar um disco), para celulares touch multifuncionais que nos conectam com o mundo; ou da TV analógica sintonizada quase sempre na Globo para a internet com multicanais e pluralidade de visões sobre o mundo; ou ainda do jornal impresso que líamos de manhã para o notebook ou o tablet, em que lemos e escrevemos em tempo real. Mais que tudo isso, a era digital inaugurou uma nova vocação no ato de comunicar e sua principal característica nos deu algo inédito em toda a história da comunicação.

Qual é essa vocação e o que ganhamos com ela? As respostas são interatividade e poder

A internet, além de ser a mídia das mídias (engolindo as características de todas as mídias anteriores: o texto, o som, a imagem e o vídeo), é também a mais interativa de todas. Tão interativa que vem revolucionando a velha fórmula da comunicação (emissor-mensagem-receptor). Na internet das conexões (ou, a internet 2.0, dos bancos de dados cruzados e das mídias sociais), receptores têm também potencial para serem emissores. Antes, fosse no jornal, no rádio ou na TV, líamos, ouvíamos e assistíamos sem poder interferir na mensagem, tendo de nos contentar entre acreditar ou não nela. O feedback era muito pequeno e demorado (escrever uma carta a um jornal, por exemplo, era a quase certeza da não-publicação). Já na internet, nós participamos do debate ativamente, podendo comentar em tempo real sob postagens de outras pessoas, compartilhar conteúdos com a nossa interpretação sobre eles ou formularmos nossas próprias considerações sobre todos os assuntos que quisermos, em nossos próprios canais (perfis).

Na primeira imagem, abaixo, a fórmula da comunicação nas mídias pré-internet. Há um emissor e um receptor claros e a mensagem dirige do primeiro para o segundo. Existe uma seta contrária indicando o feedback, mas ele é muito pequeno diante do que ocorre com a internet, que está na segunda imagem. A nova fórmula da comunicação transformou deu poder ao receptor, que se transformou num potencial emissor.








Na primeira imagem acima, a fórmula da comunicação nas mídias pré-internet: há um emissor e um receptor claros e a mensagem dirige do primeiro para o segundo; até existe uma seta contrária indicando o feedback, mas ele é muito pequeno diante do que ocorre com a internet, que está na segunda imagem. A nova fórmula da comunicação deu poder ao receptor, que se transformou num potencial emissor. Isso se observa nas mídias sociais, por exemplo.

Trocando em miúdos (emprestando a frase do genial Chico Buarque), ganhamos poder. Um poder que advém da descentralização e distribuição das mensagens em rede, possibilitadas pela internet 2.0. É uma nova era de conexões que não possui um polo centralizador, mas se multiplica em inúmeros pontos interligados. 

Se pensarmos na comunicação de massa pré-Gutemberg, tínhamos a Igreja como centralizadora da pauta, pois era apenas nas missas dominicais que a sociedade tinha alguma possibilidade de lidar com assuntos públicos, pois não havia outra forma de divulgação de informações. Depois da prensa, chegaram os impressos e com eles a quebra do monopólio do clero diante da comunicação. Aí veio o rádio, o cinema, a TV e grandes grupos de mídia se formaram, dominando a divulgação de conteúdos por esses canais. Jornais, rádios e TVs têm donos e qualquer conteúdo que passe por eles passa pelo crivo desses donos. Ou seja, depois de Gutemberg, cuja invenção quebrou o monopólio do clero na condição de comunicadores de massa, surgiram as empresas de mídia, que concentravam em si (e em mais ninguém) a prerrogativa de falar com grandes públicos.

No vídeo abaixo, um músico norte-americano protagoniza um exemplo do poder de mídia que a internet 2.0 nos deu. Após ter sua guitarra quebrada em um voo da United Airlines e não tendo conseguido ressarcimento, ele fez um videoclipe e subiu no Youtube. O efeito viral do vídeo arranhou a imagem da empresa, a ponto de ela ter queda na Bolsa de Valores.





Hoje, com a internet, assistimos à quebra dos impérios midiáticos, pois todos podemos ser uma mídia, todos somos um veículo de comunicação em potencial, com condições de reunir muitas pessoas e muitas ideias em volta de nós, de nossos perfis nas mais diversas mídias sociais (Facebook, Twitter, Blogs, Instagram, Youtube etc). Há que se ressaltar que essas mídias também têm donos e, de alguma forma, estamos pendurados a eles com nossos perfis, porém o controle de conteúdo desta nova mídia é completamente diferente da velha. Não há um editor designado pelo dono do Facebook, por exemplo, para ler suas postagens e liberar ou não para publicação. Você publica diretamente. E se não for no Facebook, poderá ser em inúmeras outras mídias. O controle do conteúdo é seu e isso se chama poder.

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