27.8.14

Pesquisa: família, escola e mídias

Qual a relação dos adolescentes com as novas e velhas mídias, com seus pais, suas mães e com a escola na hora da sua mais importante decisão, "o ser quando crescer"? Este foi o tema que abracei na conclusão de minha pós-graduação, em 2012, na Faculdade Cásper Líbero, instituição onde também havia me graduado jornalista no início dos anos 2000. 

Pesquisei, a princípio, 123 alunos do 3º ano do Ensino Médio em sete cidades de quatro Estados brasileiros (São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal e Maranhão). O foco inicial foram escolas particulares de diversos perfis socioeconômicos, que atendem desde a nova classe C até a classe A. Em seguida, somei ao espaço amostral outras 92 entrevistas exclusivamente de escolas públicas, somando 215 entrevistas.




1. DECISÃO

O questionário, feito por meio de aplicação presencial, começava levantando qual a porcentagem de estudantes que já decidiram que carreira seguir no 3º ano do Ensino Médio e a pesquisa mostrou que a grande maioria (ou, 88%) já entra neste período decidida, enquanto 12% ainda não decidiram. O resultado nos sugere que começar a trabalhar orientação profissional no final do Ensino Médio pode ser tarde demais, ou seja, o quanto antes esse tema for abordado, melhor.


2. INFLUÊNCIAS

A questão seguinte focou os que responderam "sim" à anterior e abordou se a escolha da profissão teve alguma influência, de alguém ou de algo. E, também neste caso, a maioria aponta que, sim, sofreu influência. Dos entrevistados, 68%  admitem que foram influenciados na decisão, enquanto 32% diz que não sofreu nenhuma influência.


3. FONTES DE INFORMAÇÃO

Outra questão, direcionada a todos os entrevistados, focou a fonte de informação que utilizam na busca de conteúdos que os ajudem na escolha da profissão. As respostas mostram uma enorme preferência dos adolescentes pela internet, diante de todos os outros meios de comunicação de massa (TV, impressos ou rádio). A internet apareceu com 77,37% das preferências contra apenas 13,58% da TV, 4,94% dos jornais, 3,29% das revistas e 0,82% do rádio. 

O resultado nos dá uma interpretação quase óbvia: o canal mais eficiente para chegar até o jovem é sem dúvida a internet, o que não quer dizer que outras plataformas devam ser desprezadas. O professor é uma importante ponte entre a informação e sua transformação em conhecimento diante dos alunos. Então, pode aproveitar conteúdos de várias plataformas e terá mais sucesso se canalizar esse conteúdo para uma plataforma digital, como o site da escola, o blog do próprio professor, um grupo no Facebook etc.


3. MÍDIAS SOCIAIS

A pesquisa também levantou o poder das mídias sociais na vida dos adolescentes e o resultado mostra que ele é muito grande. Nada menos que 97% dos estudantes pesquisados possuem conta em uma ou mais mídias sociais e só 3% não têm. Ou seja, utilizar essas mídias para criar canais de interação entre alunos e seus professores pode ser interessante, considerando a maciça presença dos jovens nesse contexto.

As mídias sociais fazem parte de uma revolução dentro da revolução que é a própria internet, a chamada internet 2.0, que permite a criação de perfis pessoais com muita facilidade e o cruzamento de informações e conexões. Com esse fenômeno, ganhamos poder de mídia, passamos a ser, além de receptores de informação, também emissores, e isso certamente explica o porquê de estarmos tão conectados.


Mas, quais seriam as mídias sociais mais relevantes na vida dos adolescentes. A pesquisa também buscou essa resposta e o resultado aponta um empate técnico entre Facebook e Youtube, seguidos de Twitter e blogs. Esse resultado vem de uma média de realidades bastante diversas focadas na pesquisa e, portanto, uma medida interessante seria, antes de traçar uma estratégia de mídias sociais dentro de uma escola, buscar saber quais mídias são mais utilizadas naquela realidade em questão.

É interessante observar que usar apenas uma mídia pode empobrecer a estratégia. Antes de começar um trabalho de uso da internet em salas de aula, algumas observações podem ser interessantes: checar como é o próprio site da escola (se tem um administrador que permite postagens constantes de conteúdo); cada professor pensar em ter seu próprio blog, para onde canaliza boa parte do seu conhecimento e sua interpretação do mundo; como é a relação dos alunos com as mídias sociais, o que eles já produzem e como já interagem nessa nova dimensão da comunicação.

O site da escola pode ser um importante "QG" (Quartel General) de informações institucionais (sobre a escola, os eventos que nela acontecem, as regras gerais, as iniciativas diversas relacionadas à comunidade que a frequenta ou a envolve etc). Essas informações podem ser canalizadas ("linkadas") para mídias sociais como o Facebook (onde se podem criar grupos de alunos, divididos por classes, por exemplo) e o Twitter.

Outro "QG" interessante são os blogs dos professores, um mecanismo que possibilita um enorme empoderamento daquilo que é próprio de quem leciona: a multiplicação do saber. Ao ter um blog abastecido com seus estudos, o professor passa a contar com uma importante ferramenta para enriquecer seu trabalho docente, podendo "linkar" cada postagem, oportunamente, para outras mídias sociais, como, por exemplo, o grupo no Facebook da sua classe X ou da classe Y. 

Mais que isso, o blog do professor é como seu livro virtual, sua fonte de empregabilidade que levará para todas as escolas onde trabalhar e todos os alunos a quem ensinar.



4. PAIS, MÃES, PROFESSORES E TECNOLOGIAS

A questão mais importante da pesquisa, que acabou sendo uma grata surpresa para mim ao compilar os resultados, retoma a segunda pergunta do questionário, sobre as influências sofridas pelos alunos e pelas alunas. Em um tempo em que os jovens estão tão conectados em seus notebooks e celulares, tão virtuais em suas relações, quem e o que mais os influencia na hora de tomar a decisão tão importante da escolha da profissão? Os pais e as mães são importantes? E o professor, que papel exerce? Qual a relevância de instâncias tradicionais como a família e a escola numa era de tanta tecnologia?

O resultado é surpreendente, porque mostra um equilíbrio perfeito entre família, professores e tecnologia. Entre os fatores mais importantes na escolha do "ser quando crescer", os adolescentes consideram a figura do pai, da mãe e do professor igualmente importantes, ambos empatados também com a tecnologia da informação. Família ficou com 22,4% entre as respostas "muito importante" para este fator (as respostas poderiam ser "muito", "relativamente" ou "pouco" importante" para cada item), sites com 22,3% e professores com 22,1%. Trata-se de um empate fazendo a aproximação decimal.

Ou seja, pais, mães, professores e tecnologia da informação estão empatados em primeiro lugar entre os fatores mais relevantes de referência para os adolescentes decidirem sobre suas futuras profissões. Sim, eles estão conectados, mas valorizam a figura da família e da escola, dos país e dos professores. 

Esse resultado sugere que esses três elos se unam em prol de uma educação eficiente no sentido de corroborar com projetos de vida bem construídos no ambiente escolar. Famílias e escolas podem aproveitar as novas tecnologias para se unirem em prol daquilo que os alunos precisam: orientação e referência para tomar suas decisões.

Aqui, várias ideias surgem e cada escola pode usar conforme sua realidade. Para trazer a importância da família para a sala de aula via tecnologia, pode-se criar um blog compartilhado ou um grupo no Facebook em que os pais e as mães escrevam contando sobre a rotina e os desafios sobre suas profissões pode ser uma saída interessante. No caminho inverso, da escola para as famílias, pode-se utilizar as mídias sociais (o Youtube, por exemplo) para subir trabalhos feitos nas escolas, para que os pais os vejam mesmo à distância, acompanhando as atividades dos filhos, seus talentos, seu potencial criativo, seus sonhos.

Claro que tudo isso demanda cuidados. O poder de mídia que a internet nos conferiu para novas oportunidades também nos expõe a riscos e qualquer exposição dos alunos deve ser de comum acordo com os pais, assim como tomando os cuidados legais. Entretanto, negar-se a esta nova realidade pode ser mais perigoso, pois os alunos estarão conectados de qualquer maneira, muitas vezes se arriscando muito mais fazendo por si próprios, sem a orientação da escola em união com as famílias. 



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